domingo, 28 de abril de 2013
Nos assustamos com o amor, deveríamos nos assustar com a indiferença.
Mas é o amor que tememos, como se não fosse possível, como se fosse um engano, como se fosse o endereço trocado.
"Não pode ser verdade" é o que sussurramos para o batimento.
"Não há ninguém aqui dentro" é o que respondemos para as batidas na porta.
Nos acostumamos a não receber o amor. A não acreditar no amor. A escondê-lo entre as cartas e fotos das gavetas.
Nos conformamos com o pouco para não sofrer em esperar. Nos restringimos às sobras para não adoecer de expectativa.
Diminuímos a esperança para não exigir. Reduzimos nosso apetite para não morrer de fome.
Éramos intensos, passionais demais para o passado. Éramos exagerados, sentimentais demais para os outros.
Éramos aflitos, desesperados demais para as regras. Amávamos mais do que o recomendável.
Sempre pensamos que carregávamos um erro, que o problema estava em extrapolar a medida, que a grande falha consistia em ser transparente, em querer casar e viver com alguém até depois de viver.
Quando nos encontramos, foi o equivalente a sair do manicômio, a fugir do hospital, a voltar para a própria cidade de nascença.
Entre nós, não há estranheza, não há mendicância, não há solidão do sonho.
Amar você não tem tamanho. Não temo falar o que desejo.
Seus olhos crescem nos meus. Suas palavras me devolvem a voz.
Nossa pele floresceu.
F. Carpinejar
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